segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A Moça



A moça

De rodilha
lata d’água
na cabeça
calada
todas as tardes
a bela moça
roceira
passava

Fogosa e faceira
de gravata borboleta
distribuía sorrisos
de alegria
nas manhãs de domingo
como se não fosse haver
segunda-feira
nem rodilha
quero os bêbados da noite
e as prostitutas que vierem
lambuzar-me de todos
e de cerveja
depois voltar pra te acordar
com beijos e caricias
depositar em teus seios
os vermes da minha língua


(Carlos Alberto)

domingo, 3 de agosto de 2014

nasci, cresci e me tornei um ladrão
iniciante comecei roubando flores
velho ainda quero roubar seu coração
com aquelas flores iniciei o processo
depois fui regando flores e versos
hoje junto tudo e atiro no alvo certo
seu seu, seu meu, meu e seu eternos
Que uma margarida branca
e uma dália disfarçada de rosa
se juntam para murchar o inverno

(Carlos Alberto)

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Meia, Meia, Meia, Meia ou Meia?


Na recepção de um salão de convenções, em Fortaleza:
- Por favor, gostaria de fazer minha inscrição para o Congresso.
- Pelo sotaque vejo que o senhor não é brasileiro. O senhor é de onde?
- Sou do Sudão.
- Da África, né?
- Sim, sim, da África.
- Aqui está cheio de africanos, vindos de toda parte do mundo.
- É verdade. O mundo está cheio de africanos, pois a África é o berço antropológico da humanidade.
- Pronto, tem uma palestra agora na sala meia oito.
- Desculpe, qual sala?
- Meia oito.
- Podes escrever?
- Não sabe o que é meia oito? Sessenta e oito, assim, veja: 68.
- Ah, entendi, meia é seis.
- Isso mesmo, meia é seis. Mas não vá embora, só mais uma informação: A organização do Congresso está cobrando uma pequena taxa para quem quiser ficar com o material: DVD, apostilas, etc., gostaria de encomendar?
- Quanto tenho que pagar?
- Dez reais. Mas estrangeiros e estudantes pagam meia.
- Hmmm! Que bom. Ai está: seis reais.
- Não, o senhor paga meia. Só cinco, entendeu?
- Pago meia? Só cinco? Meia é cinco?
- Isso, meia é cinco.
- Tá bom, meia é cinco.
- Cuidado para não se atrasar, a palestra começa às nove e meia.
- Então já começou há quinze minutos, são nove e vinte.
- Não, ainda faltam dez minutos. Como falei, só começa às nove e meia.
- Pensei que fosse às 9h05, pois meia não é cinco? Você pode escrever aqui a hora que começa?
- Nove e meia, assim, veja: 9h30.
- Ah, entendi, meia é trinta.
- Isso, mesmo, nove e trinta. Mais uma coisa senhor, tenho aqui um folder de um hotel que está fazendo um preço especial para os congressistas, o senhor já está hospedado?
- Sim, já estou na casa de um amigo.
- Em que bairro?
- No Trinta Bocas.
- Trinta bocas? Não existe esse bairro em Fortaleza, não seria no Seis Bocas?
- Isso mesmo, no bairro Meia Boca.
- Não é meia boca, é um bairro nobre.
- Então deve ser cinco bocas.
- Não. Seis Bocas! Entendeu? Seis Bocas. Chamam assim porque há um encontro de seis ruas, por isso seis bocas. Entendeu?
- Acabou?
- Não. Senhor é proibido entrar no evento de sandálias. Coloque uma meia e um sapato...
O africano enfartou.

(Professor Sandro Zanon - profzanon.blogspot.com.br)

quinta-feira, 17 de julho de 2014

meu pai

Aos meus olhos de criança meu pai, obstinado ao trabalho, era um homem rude. Quando nos juntávamos para rezar o terço de todos os dias intercalados nos mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos, cheios de “padre-nossos”, ave-marias, glórias ao pai e ladainha, ele se limitava ao sinal da cruz – era o que de reza sabia. Eu o olhava com ternura. Ele, meu pai, era um homem bom.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

VIVA EU, VIVA TU, VIVA O RABO DO TATU


 

  

Cabra cega. Essa era uma, entre tantas outras, das distantes brincadeiras da gurizada da minha rua que quando o sol se punha, avivava-se para um repertório de inocentes cantigas de rodas e desejos não tão inocentes assim.

Na brincadeira do passa anel, meninos e meninas ocultavam uns pelos outros o desejo de ser castigado. De ter de pagar com o castigo de um tímido beijo: paixão segredada! ...Por isso, dona Chica, faz favor de entrar na roda... Nada contra as opções sexuais nos dias de hoje, também naqueles idos dias, opções estranhas existiam, de forma pacata, mas existiam.

Quem chegar por último é mulher do padre e ninguém queria sê-lo. Entre os da minha tribo, os guris eram machos e as gurias eram fêmeas e as paixões eram tidas entre os diferentes e apenas a amizade, e o amor em sua essência, entre os iguais.

Não é preconceito, mesmo porque eu não o tenho, era, são e serão conceitos preestabelecidos em regras que foram criadas por alguém para serem perpetuadas pelos demais. 

...Diga um verso bem bonito, diga adeus e vai embora.

Dos galhos podados das árvores resultavam pequenas cavernas, para onde nos metíamos para meditações sobre o nada.

Naqueles dias a inveja, o ódio e até mesmo a raiva eram sentimentos neutralizados pela alegria. O anel que tu me destes era vidro e se quebrou...

Com o advento da internet, do mundo ponto com, as coisas já haviam mudado. A TV e o sofá já haviam feito da sala a extensão da rua e o brilho da lua e das estrelas tornaram-se opacos.

Numa atitude insana, nos enveredamos por atalhos rumo à lei do menor esforço e ao colesterol.

Hoje não queremos mais saber com quem está o anel, do passa boi passa boiada..., da ciranda cirandinha, do dá um tapa na bunda e vai esconder, nem com quem está a feda. Hoje a onda é outra. É surf my brother! E ninguém é obrigado a pagar mico. Viva eu, viva tu. Viva o rabo do tatu.

É. Hoje os dias são outros, porém a corrida continua e quem chegar por último continuará sendo a mulher do padre. Céus, como era inocente a inocência de meus dias.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Palavras



Benditas
As bem ditas
Palavras
Sabias

Malditas
As mal ditas
Palavras
Fracassadas

Umas dizem tudo
Outras dizem nada

Carlos Alberto de Lima
Hai Kai

no espelho do tempo que vai
vejo menos a minha cara
vejo mais a cara do meu pai

(Carlos Alberto)

quarta-feira, 9 de julho de 2014

De Gol em Gol



O Hexa é nosso! Batíamos no peito esse orgulho de ser brasileiros. De sermos penta e disputando a Copa em nossa casa, conquistar o hexa seria moleza.
Passamos fácil pela Croácia (3x1), empatamos com o México (0x0), vencemos Camarões (4x1) e chegamos nas oitavas.
Pegamos o difícil Chile e no sufoco ficamos no 1x1 que nos levou à prorrogação e aos pênaltis. 3 a 2 para o Brasil. Parabéns para Julio César que defendeu dois, para a trave que defendeu outro. A trave já havia nos salvado no último momento da prorrogação.
   Com isso chegamos às quartas de final e a Colômbia de James Rodríguez surgia como aposta negativa para muitos de nós. Brasileiros com muito orgulho derrotamos aquela seleção até então invicta por 2x1. Claro que nem tudo foram flores. Naquele jogo herdamos um segundo cartão amarelo para Thiago Silva e Neymar que sofreu grave lesão na terceira vértebra e deixou definitivamente a Copa,
Semifinal. França ou Alemanha? Deu Alemanha que assim como o Brasil também acumulava um empate, com a diferença em ter empatado (2x2) com uma seleção de pouca tradição, Gana. Uma seleção que não conseguiu nenhuma vitória na fase de grupos.
Assim começávamos a desenhar nosso futuro, uma final contra a Laranja Mecânica, Holanda, ou com los hermanos argentinos.
Sonhos não são proibidos, sonhar é preciso, vencer não é preciso. Para nos, os mais de duzentos milhões de brasileiros, era. Estávamos jogando em casa e precisávamos recuperar o que perdemos em 1950 quando a final da Copa no Maracanã deu a vitória ao Uruguai.
Ponta pé inicial. Expectativas. Time escalado por Felipão com algumas novidades que não valem ser repetidas aqui, só tomariam espaço. Espaço que não tomou em campo. O Brasil, perdia e recuperava constantemente a bola que era jogada em espaço vazio, como a nossa zaga.
Foi então que aos dez ou 11 minutos o nosso sonho e o nosso grito começavam a calar com o primeiro gol da seleção alemã. Viriam outros. Numa divisão de tempo pode-se dizer 5 gols num espaço de 18 minutos, quatro deles em seis minutos... enfim o trecho da canção “De gol em gol...” que nós cantávamos parecia ter sido feito para eles, para os alemães que de gol em gol iam se descobrindo e descobrindo ainda mais a nossa zaga, o nosso meio de campo, descobrindo e nos cobrindo de gols. Mais dois no segundo tempo e um de Oscar para não dizer sete a zero, 7 a 1.
“Foi um vexame!”, admitiu Galvão. “O maior vexame do futebol”, completou Casa Grande.
E o pessoal da Band (Rede Bandeirantes de Televisão), atribuía tudo, tudo o que aconteceu para aquela lamentável derrota ao nome Luiz Felipe Scolari (Felipão), e uma parcela de culpa a Carlos Alberto Parreira e à comissão técnica.
E os mais de duzentos mil brasileiros torcedores, a quem eles (também me incluo) atribuem esse vexame histórico? A não presença de Neymar, à ausência da zaga, a falta de mais um volante...
Em coletiva o Felipão admitiu e tomou toda a culpa para si e disse “As lições que teremos que tirar é sentar com o nosso grupo (...) e mostrarmos que foi um jogo atípico (...) e sabermos como assimilar essa derrota”.
Gravei o jogo e, não que eu seja masoquista (já sofri o bastante), quero tirar proveito e rever várias vezes um trecho inédito na história das seleções e do futebol em geral: “De gol em gol...”

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Um "Pum" no Supermercado



A garota se desenhava à minha frente na fila do supermercado. Confesso que, como admirador das artes plásticas, principalmente esculturas, para mim aquela tinha significativa importância.
E como fazem para realçar o charme, rodopiou os lisos e laminados cabelos que por pouco não me feriram o rosto naquela inocente e esvoaçante investida sobre mim. Inconsciente, obviamente, já que, desatenta, a garota sequer notara a minha presença as suas costas, quiçá a admiração que eu exercia sobre ela.
Também não fazia exigências maiores, nem menores. Limitava-me em torcer mentalmente para que ela se virasse e eu pudesse ver o seu rosto e assim poder compará-lo com a geometria dos outros traços impiedosa e milimetricamente por mim observados e diagnosticados.
Claro que para isso eu poderia recorrer a outros artifícios como a simulação de um tropeço em nada, ou um leve esbarro em seus saltos e, assim, ela se voltasse para mim e ouvisse minhas ensaiadas desculpas.
Não. Eu queria que tudo acontecesse da maneira mais natural possível e, por isso, ia mentalmente repetindo “olhe, olhe, olhe para trás...” como uma espécie de mantra. E eis que, de repente, imprevisto pelos deuses, um pum, um sonoro pum se fez ouvir.
Ressabiada ela, imediatamente, olhou não apenas para trás como para todos os lados, e, então, eu pude finalizar a minha tese: ela realmente era individual e completamente um show. Letra e música em suave harmonia. Aquele pum para mim soou como um belo acorde numa bela orquestra e eu ganhei o meu dia.

domingo, 6 de julho de 2014

Eles estão de volta

Ventos dão conta de que eles estão de volta com aquela volta enfadonha das promessas compridas e nunca cumpridas. Estão de volta com o "EU fiz isso, EU fiz aquilo...", cantando de galo no poleiro da safadeza. Cuidamo-nos para não entrar no papo deles. Eles são os políticos (candidatos) que teremos de escolher e votar no primeiro domingo de outubro. Inté.

sábado, 5 de julho de 2014



Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé... Pare que isso é plágio. Dê-se o crédito ao autor. Nesse caso à autora: Cecília Meireles – A arte de ser feliz.
Mas, houve um tempo – últimos anos do século passado e primeiros desse vinte e um, em que eu escrevia diariamente em jornais e revistas, calejando teclados e sugando às imaginações dos leitores com crônicas e artigos.
Hoje, acredito não estar mais para isso, porém, machuca-me a ideia de que poderei ter o cérebro atrofiado caso eu desista. Nesse caso, bem ou mau, dou-me a essa tarefa imposta.
Abraços a todos os leitores e, daqui pra frente, “tamu junto”.
Este blog está sendo reativado. Aguardem!