terça-feira, 30 de outubro de 2012

O passarinho

e a passarinha

pousaram juntos

à minha porta

Pareceram-me feitos

um para o outro

num amor

de quem se gosta



Numa paixão comovida

...o passarinho cantava

para a amada passarinha

que sorrateira aplaudia

com as asas



Carlos Alberto de Lima

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Viva eu! Viva tu! Viva o rabo do tatu!


Carlos Alberto de Lima

Cabra cega. Essa era uma, entre tantas outras, das distantes brincadeiras da gurizada da minha rua que quando o sol se punha, avivava-se para um repertório de inocentes cantigas de rodas e desejos não tão inocentes assim.
Na brincadeira do passa anel, meninos e meninas ocultavam uns pelos outros o desejo de ser castigado. De ter de pagar com o castigo de um tímido beijo: paixão segredada! ...Por isso, dona Chica, faz favor de entrar na roda... Nada contra as opções sexuais nos dias de hoje, também naqueles idos dias, opções estranhas existiam, de forma pacata, mas existiam.
Quem chegar por último é mulher do padre e ninguém queria sê-lo. Entre os da minha tribo, os guris eram machos e as gurias eram fêmeas e as paixões eram tidas entre os diferentes e apenas a amizade, e o amor em sua essência, entre os iguais.
Não é preconceito, mesmo porque eu não o tenho, era, são e serão conceitos preestabelecidos em regras que foram criadas por alguém para serem perpetuadas pelos demais.
...Diga um verso bem bonito, diga adeus e vai embora.
Dos galhos podados das árvores resultavam pequenas cavernas, para onde nos metíamos para meditações sobre o nada.
Naqueles dias a inveja, o ódio e até mesmo a raiva eram sentimentos neutralizados pela alegria. O anel que tu me deste, era vidro e se quebrou...
Com o advento da internet, do mundo ponto com, as coisas já haviam mudado. A TV e o sofá já haviam feito da sala a extensão da rua e o brilho da lua e das estrelas tornaram-se opacos.
Numa atitude insana, nos enveredamos por atalhos rumo à lei do menor esforço e ao colesterol.
Hoje não queremos mais saber com quem está o anel, do passa boi passa boiada..., da ciranda cirandinha, do dá um tapa na bunda e vai esconder, nem com quem está a feda. Hoje a onda é outra. E ninguém é obrigado a pagar mico. Viva eu, viva tu. Viva o rabo do tatu.
É. Hoje os dias são outros, porém a corrida continua e quem chegar por último continuará sendo a mulher do padre. Céus, como era inocente a inocência de meus dias.



quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Pensando bem
Eu e você
(também)
Iremos além

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Eu e minhas nuances da vida política


Carlos Alberto de Lima

Apesar de minha formação universitária ter sido Comunicação Social com especialização em jornalismo, durante algum tempo, por necessidade, fiz parte da rede pública de educação ministrando, interinamente, aulas de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Por conta disso sou, constantemente, cobrado, por algumas pessoas, em questões gramaticais e ou linguísticas.
Não me constranjo em revelar que muitas vezes me vejo em situações embaraçosas, do tipo: “Como professor de Língua Portuguesa, você pode confirmar...” ou então: “Impossível que você não saiba!”
Lembro de uma vez que fui questionado, por um aluno do curso de alfabetização de jovens e adultos, sobre o significado da palavra “etecétera”, cujo uso e pronúncia originalmente corretos seria “ET Cetera”, por se tratar de uma expressão de origem latina (ET caetera), etc., de forma abreviada, substituindo as expressões “e os restantes”, “e as demais coisas”. Não fui feliz. Meu aluno impostou a voz e, como me desafiando, bradou: “Eu ‘disconcordo’! Etc. quer dizer este trecho continua!”. Diante do “disconcordo” e da categórica afirmação, eu me silenciei.
Pensando nessa e em outras situações por mim enfrentadas, parti para um estudo mais aprofundado da nossa Língua Portuguesa. Em um dos intermináveis momentos de pesquisa, deparei-me com palavras que, embora sinônimas, dependendo da situação, são diferentemente empregadas. Exemplos: falar e dizer, ouvir e escutar, deformação e deformidade e outras merecedoras de uma análise minuciosa – quesito (ou requisito) que estou exercitando e me tornando um verdadeiro craque.
O horário eleitoral – as mensagens dos políticos – é o melhor momento para esse exercitar e tirar conclusões na escolha dos candidatos mais comprometidos ou compromissados com o povo. E, voltando ao parágrafo anterior, estão aí duas palavras sinônimas: comprometido e compromissado. Sinônimas, porém, com entendimentos opostos. Estar comprometido é estar obrigado a; estar compromissado é se dar a um compromisso. Vejamos: “Fulano de tal está comprometido”, isto é: está obrigado a aceitar as ideias de sicrano, seguirá os mandos de sicrano; já nesta outra frase, “fulana de tal está compromissada”, isto quer dizer: assumiu um compromisso e esse compromisso remete à idéia de comprometimento, a obrigatoriedade passa a ser com as ideias, com o participativo, com a participação do povo no processo administrativo.
Entenderam a diferença entre estar comprometido (a) e estar compromissado (a)? Linguisticamente o candidato ou candidata pode ficar à vontade em dizer que está comprometido (a) ou que está compromissado (a), porém, caberá aos eleitores o entendimento desse compromisso ou comprometimento. Uma dica: prefira os candidatos compromissados aos comprometidos. Pois bem, até a nossa próxima aula de percepção político eleitoral.



Carlos Alberto de Lima é jornalista em Alta Floresta - MT

carlosalbertodelima2011@hotmail.com

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Poetrix


Amaremar

No meio do mar
Amei Marília
Numa ilha

Separação

Ele fez, ela desfez
O laço
De uma só vez

Artrite

Sofria com a gota
E com as perguntas
Se lhe doíam as juntas

Suborno

Em vez de 171
Mandou 50
E alugou o policial

Linguística 

O povo estão aprendendo
O que eles ensina
Deus! Assassinaram nossa língua

Carlos Alberto de Lima

quarta-feira, 29 de agosto de 2012




A garota das havaianas de correias brancas

Carlos Alberto de Lima

Ontem, eu e uma amiga fomos a uma sorveteria para reaver momentos e absorver flocos e massas. Gente entrando, gente saindo, crianças se lambuzando, adultos achando graça, casais mais jovens trocando intimidades, casais mais comprometidos trocando fraudas e nós dois ali, naquela desconfortável mesinha de sorveteria.
Apesar do desconforto oferecido pelas mesinhas, atendimento e sabores fazem daquele local o melhor e mais agradável dos ambientes.
Como cronista, costumo cumprir à risca o meu lado observador, enquanto a minha amiga que não é cronista, também cumpre à risca a função de ficar observando a maneira com que eu observo cada pessoa e cada detalhe a ser observado.
Meu objetivo com a observação é o apanhado de dados de que necessito para descrever cada lance em suas minúcias, já o objetivo da minha amiga é pegar os detalhes minuciosos dessa observação, na tentativa de me comprometer.
Estávamos nesse paralelo, entre conversa e observações, quando adentrou ao recinto uma jovem em seus aparentes dezessete para dezoito anos, dentro de um receptivo short jeans e os pés (coisa mais linda numa mulher) emoldurados por um belíssimo par de havaianas de correias brancas.
Simplicidade e elegância adentraram juntas com a jovem de olhos verdes, lábios carnudos, andar de passarela e cabelos de um tom louro médio, encaracolados e curtos, em contraste perfeito com aquele corpo escultural e com a pele de cor morena acentuada por horas e horas de piscina.
Mesmo sob a desaprovação de minha amiga, não pude fugir da observação. A garota, além de bonita, possuía formas talentosas. Sentou-se à mesa, acendeu um cigarro e, com o dedo indicador, afastou os poucos fios de cabelo que lhe cobriam as orelhas e, com a chegada do atendente, pediu com firmeza: “você tem souvete de quais sabor”. Olhei para minha amiga e, juntos, rimos.

domingo, 26 de agosto de 2012

E então?
Pergunto ao meu eu
Existe espelho
Mais belo que o meu?

sexta-feira, 24 de agosto de 2012


É de pescoço?
Tudo bem desde que seja
Carne de porco

Carlos Alberto

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O nosso horário de cada dia


Carlos Alberto de Lima

Na última terça-feira, teve inicio o horário político no rádio e na TV. Não via a hora! Adoro horário político, principalmente na TV. Não perco um. Esse lance, essa empatia entre mim e ele não é de hoje. Digo empatia porque eu adoro os programas e eles parecem ser feitos para mim. Para proporcionarem-me alegrias, entretenimento e nunca tristeza. Com eles eu cresço intelectualmente. Sondo o candidato que se me apresenta na telinha pedindo o meu voto ou pedindo-me para que eu não vote nele. Verdade. Na minha última pós eu tirei dez em Análise do Discurso. Basta que o pedinte – candidatos a vereadores são, na maioria, apenas pedintes e, se eleitos, continuarão sendo pedintes – diga o nome e o número e eu já tenho um diagnóstico completo se é do bem ou se é do mal. Perdoem-me, mas eu não consigo engolir essa história, afinal quem é do bem não anda mal acompanhado. Está no sangue.
Voltando ao horário político, na quarta-feira, 22, foi o primeiro dia dos pretendentes ao cargo de prefeito (ou prefeita) dos municípios brasileiros. Acordei e fiquei contando minutos, segundos e átimos de segundos para o inusitado momento. Afinal eleições municipais, tal qual os anos bissextos, Olimpíadas e Copa do Mundo, só acontecem de quatro em quatro anos.
E o momento chegou. Como moro no interior de Mato Grosso arranquei os fios da parabólica e escondi o receptor. Tudo em garantia de poder assegurar e garantir o assistir ao meu programa favorito.
Começou! Dia de apresentação dos candidatos. De onde e como vieram, o que fizeram e o que farão. Apesar de um visível amadorismo de ambas as partes, acertou-se em muito e errou-se em muito mais, porém, valeu!
Mas como eu disse: horário político para mim é entretenimento, eu me diverti legal. Muita coisa engraçada. Exemplos? Apenas um para descansar a mente do leitor, poupando-a de análises menos ou mais assertivas que as minhas, o depoimento de uma empregada satisfeitíssima com os patrões. “Aqui eu tenho toda a liberdade, abro a geladeira, como o que eu quero...” Sem contar que nesses quereres tem também o “Chego na hora que eu quero e saio na hora que eu quero”. E então eu pensei naquele pessoal todo que só aparece em épocas de campanhas, acesos por uma boquinha na prefeitura... Deverão estar maravilhados: chegarem, saírem e fazerem o que bem quiserem. É.



Carlos Alberto de Lima é jornalista

Carlosalbertodelima2011@hotmail.com

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Ele gostava de maçã
Ela de banana
Os filhos?
- de pitanga

Carlos Alberto
Feitos
Um para o outro
Ambos
Sem gosto

Carlos Alberto

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Me viu no face
então me abrace
não me deixe

Carlos Alberto
Tudo errado
Quem é do bem não anda
Mal acompanhado

Carlos Alberto

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O adequado?
Mil vezes o simplesinho
Ao complicado

Carlos Alberto

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Eu não duvido
Escritores mais simples
São mais lidos

Carlos Alberto

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Moleque foge
Aquele cachorro late
E também morde

Carlos Alberto

domingo, 12 de agosto de 2012

Dia dos pais
É um bonito poema
Como haikais

Carlos Alberto


Asiático?
Aqui nervo é na perna
E ciático


Carlos Alberto

quarta-feira, 8 de agosto de 2012




Cedo ou tarde
Viajarei nas asas
Da realidade

Carlos Alberto

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Como Descartes

 
Penso, logo existo
Existo e não descarto
E se existo
Não desisto
Faço
Carlos Alberto

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Poemeto

Depois da
Tempestade
A bonança
Quem espera...
Cansa

Carlos Alberto

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O chego e o chegado


Está correto dizer
“eu não havia chego”?
Não!
O correto é chegado
e ponto
meu nego
pra esse babado
Em tempo:
use sempre trazido
e nunca trago
trago é presente
trazido é que é passado

Carlos Alberto de Lima

segunda-feira, 30 de julho de 2012

A TOALHA



Quando, ao sair do banho,
ela, ainda molhada,
atravessa a sala

No sofá, num louco esforço,
eu me molho e me contorço,
imbuído de um desejo louco:
em ser aquela toalha

Então corro ao banheiro
para manipular louca paixão

E é quando percebo o sabonete,
esse seu maldito gigolô,
que, ainda suado, vem
e me estende a mão

Carlos Alberto

quarta-feira, 25 de julho de 2012

A Palavra



A pá lavra?
Errado
A pá não lavra
quem lavra é o arado
ou a enxada
se usada
em posição inclinada

Quem também lavra
é a caneta
Lavra contratos
lavra atas
lavra verdades
lavra boatos
lavra escrituras
neste caso – lavraturas

Sim. A caneta lavra
Lavra, inclusive, a palavra.


Carlos Alberto de Lima

 

terça-feira, 24 de julho de 2012

Uma crônica ao meu bisa Altino




Carlos Alberto de Lima

Aos oitenta e seis anos, viúvo havia quatro, meu bisavô, que sempre viveu e só deixou o estado de Minas Gerais, levado pelos filhos que se aventuraram, nos anos quarenta, ao estado do Paraná, atraídos pelos cafezais, vivia delirando “Eu tenho uma filha no Pará e um filho no estado de Pernambuco”, ele dizia. Nós – bisnetos –, crianças, ríamos. Meu pai, minha mãe, ambos de trinta e poucos anos, e meus avós, beirando os sessenta, também riam daquela ideia que todos consideravam absurda.

“O nono está caducando”, dizia meu pai. “Ele gosta de brincar”, completava meu avó. “Vovô Altino é um poeta, isso sim”, observava, com sabedoria, tio Alfredo. Tio Alfredo era político e, como todo político gosta de ter o seu nome citado em qualquer coisa que se escreva, eu citei o seu nome aqui. Meus avós e meus pais, sempre foram modestos. Meu avô, o pai de minha mãe, era muito estudado, mas também sempre foi modesto.

E o tio Alfredo estava certo. Meu bisa era um poeta. Foi ele que, por extensão, me levou ao mundo dos versos. Extensão porque meu avô também era poeta e meu pai o maior de todos. Todos analfabetos (exceto meu avô muito estudado) e todos poetas. Uns repentistas, outros criadores e cantadores de cantigas nas folclóricas festas de Minas.

“Corina cheira meu cu, mas não conta pra ninguém, não quero que os outros saibam, o cheiro que meu cu têm”. Não sei quem foi Corina, mas essa quadrinha tem endereço, foi escrita pelo meu avô. “Quando eu vim de minha terra, uma moça me chamou, vem tomar do meu café, que ainda há pouco coou, se eu fosse solteiro eu ia, eu sou casado não vou”, encantava-nos, meu pai, ao som de um cavaquinho, em noites enluaradas, à beira do terreirão sobre o qual deitavam-se os grãos do café londrinense.

Veio geada brava que matou cafezal, canteiros e canteiros de outras culturas e também meu velho Bisa que amanheceu mas não anoiteceu. Morreu de hipotermia (doença que mata crianças desnutridas e velhos desagasalhados). Antes, em seu leito de morte, confessou aos filhos, genros, noras, netos e bisnetos. “A Maria Altina e o João Alberto, nasceram de mim com a Durvalina do velho Aniceto” que morava do outro lado do rio e que nunca soube quem era o pai dos netos porque dizia que se soubesse matava o “filho duma égua” que era casado, isso ele sabia. E antes que a Lina parisse mais um, porque fogosa e parideira, de mão cheia, ela era, seu Aniceto, morto de vergonha, porque tinha vergonha na cara e, para não morrer, verdadeiramente, de desgosto, vendeu a propriedade, catou as traias e a família e se enveredou por lugar desconhecido.

Última notícia trazida por um portador, a mando de Durvalina, falava dos filhos, agora já avós, que moravam, respectivamente, nos estados do Pará e Pernambuco. Bisa Altinho fechou os olhos e nós, os bisnetos, crianças, choramos. Meu pai, minha mãe, ambos de trinta e poucos anos, e meus avós, beirando os sessenta, também choraram. Choraram e muito. Pai, avô e bisavô, Altino de Almeida e Silva foi um verdadeiro poeta e, sobretudo, um grande homem.



PASSAGEM

Eu vi quando o vento passou

E soprou a folha
No outono
Do tempo

Eu vi quando o tempo chegou
E rasgou a página
No livro
Da vida

Eu vi quando a vida se foi
E levou a alma
Do corpo
Daquele homem

Eu vi quando aquele homem
De alma cansada
Deixou que a vida
Lhe fosse levada

Eu vi aquela alma cansada
Na página rasgada
Do livro
Do tempo

Eu vi o tempo sendo soprado
Como aquela folha
Do outono
 Pelo vento

(carlos alberto de lima)